Pular para o conteúdo

Blog

Análise St. Marché – até 12/2023

Compartilhe:

Esses dias vieram me falar da Recuperação Extrajudicial do St. Marché.

A RE é um passo antes da RJ e eu fui dar uma olhada nas DFs para ver o que aconteceu.

Spoiler: sim, é prejuízo. Mas não só isso.

Infelizmente não temos DFs de 2024 ainda, então usei de 2023 para ter uma ideia.

Quando vejo os anuais, prefiro períodos mais longos, então usei 4 anos.

De bate-pronto, vemos 3 coisas, além do prejuízo:

1) A margem bruta está estável desde 2021, e cresceu em relação à pandemia (esperado). Ou seja, a deterioração não foi aí.

Conteúdo do artigo

2) A margem EBIT (“Margem Operacional”) é bem baixa, o que aumenta o risco dos fluxos de caixa. Parte disso vai ser revertido no EBITDA pelo peso de Depreciação e Amortização. Essas margens também foram crescentes nos últimos anos.

Conteúdo do artigo

3) O peso da dívida, que transforma o lucro operacional em prejuízo líquido.
Aqui, o principal é ver a evolução da despesa financeira em 2022 e 2023, seguindo os investimentos mais pesados desde 2021.

Conteúdo do artigo

A empresa não faz a abertura das despesas e custos por conta, só um agregado. Como não é de capital aberto, não precisa ser tão transparente com o mercado em geral.

As principais contas são Custo com Estoques e Gastos com Pessoal, mas sem a separação entre custo e despesa Isso dificulta a análise.

Por exemplo, Pessoal cresceu mais que a inflação, mas em linha com a Receita. Não dá para estimar quanto foi em despesa e quanto em custo.

Conteúdo do artigo

Eu fui pelo caminho de ver o crescimento das contas agregadas.

As receitas e custos crescem praticamente em linha, por isso a estabilidade na margem bruta.

Como seria de esperar, as Despesas cresceram menos que a Receita no último ano – por isso o crescimento no lucro e nas margens.

Ainda assim, a margem líquida é negativa – a empresa tem prejuízo.

Conteúdo do artigo

O St Marchê não está longe do setor até a Margem Operacional.

Supermercado não é um setor de margens altas.

Então por que o prejuízo?

Vejam como a despesa financeira aumentou nos últimos anos, junto com o custo da dívida.

Em 2022, a empresa sofreu ainda mais pela queda na margem, que pressionou a relação entre Dívida/EBITDA (um indicador importante do mercado).

Conteúdo do artigo

Mas isso foi o suficiente para levar a empresa para a RE?

Não. Tem uma questão de caixa também.

O St. Marché até está gerando caixa operacional, mas um detalhe dá indícios do que aconteceu em 2024 e porque chegaram em fevereiro de 2025 na RE:

O saldo de caixa de 2023 caiu mais da metade.

Conteúdo do artigo

“MAS COMO QUE GERA CAIXA OPERACIONAL SE DÁ PREJUÍZO?”

Porque tem despesas sem efeito caixa. Lembra da diferença do EBIT e EBITDA?

Então, o principal é isso.

A empresa também gerou caixa com a gestão do Capital de Giro, principalmente Fornecedores e Obrigações tributárias – o que pode significar que deixou de pagar impostos em dia e aumentou os parcelamentos.

Aparentemente, foi ICMS.

Conteúdo do artigo

Conteúdo do artigo

O caixa gerado é todo consumido em Investimentos e Financiamentos.

Parte do FCI em 2023 é aplicações financeiras, mas a aquisição de imobilizado teve um ritmo forte desde 2021, especialmente para uma empresa com os resultados tão pressionados.

Conteúdo do artigo

A principal questão é no FCF.

Lembra que falei da dívida? Então.

A empresa vem aumentando dívida ano a ano, claramente para cobrir investimentos e as próprias amortizações e juros.

Isso leva a um jogo perigoso.

Conteúdo do artigo

Para entender, vamos começar com três contas principais.

Ativos e Passivos Circulantes (AC e PC) – ou seja, “o que deve e o que tem a receber” no prazo de até um ano.

Depois, o Patrimônio Líquido.

Aqui, é só ver três coisas:

1) O PL é negativo;

2) Houve aumento de capital (está também no DFC), ou seja, sócios aportando dinheiro;

3) O prejuízo acumulado até 2023 era R$ 340 milhões. Pois é.

Conteúdo do artigo

Com AC e PC, conseguimos ver qual a situação de liquidez da empresa – qual sua capacidade de pagar seus compromissos de curto prazo.

O ILC mede a relação entre AC e PC totais no curto prazo (AC/PC).

Em geral, é desejável um índice acima de 1 – e está quase metade disso.

O ILS é sem o Estoque e o ILI é apenas Caixa e Equivalentes/PC. Ambos também estão baixos.

Ou seja: a empresa já em 2023 estava com problemas de liquidez.

Conteúdo do artigo

“E aí como é que faz?”

Estavam se financiando por dívida.

Na imagem tem a evolução da dívida – acontece que muita coisa é pós-fixada, ou tem um indexador.

O custo da dívida disparou. Isso tem duas razões:

1) Aumento da taxa de juros (isso é geral).

2) Possivelmente os financiadores estão cobrando mais caro porque o risco subiu.

Conteúdo do artigo

“Mas a empresa está fazendo isso há anos. O que aconteceu??”

Não dá para ter certeza olhando só 2023, mas dá para ter uma ideia.

Vejam que a empresa reestruturou (alongou) a dívida em 2020 e 2021.

Acontece que o que era de “longo prazo” (mais de 1 ano) em 2023, pode ter virado “curto prazo” em 2024 – ou seja, vencimentos em 2025.

Se o FCO foi baixo, imaginem o caixa de final de 2024.

Conteúdo do artigo

Olhando nas notas explicativas, é mais ou menos isso.

Vejam o prazo e a indexação que falei no tuite 14.

“Mas é ‘só’ R$ 107 milhões.”

Mas tem as covenants (“regras” ou restrições) que podem gerar vencimento antecipado. Segundo a nota explicativa, a empresa cumpriu quase todas.

A minha apuração ficou um pouco diferente por critério de classificação dos passivos financeiros.

Conteúdo do artigo

Conteúdo do artigo

Então o que pode ter acontecido?

Em 2024 o resultado possivelmente foi pior, ou a dívida aumentou (ou os dois), e o St. Marché descumpriu as covenants.

Como a situação está se deteriorando, a chance dos credores flexibilizarem é cada vez menor, e a empresa se antecipou pedindo uma RE.

Um resumo: Margem baixa + baixo FCO + alavancagem alta para investir.

Crescimento e resultado não vieram, juros subiram e a situação complicou.

Compartilhe: