Análise Infraero – Até 09/2024
Seguindo com as análises de resultados das estatais, fui dar uma olhada na Infraero.
Abaixo os DFs até 09/2024 e em seguida a análise. Mais uma vez vemos prejuízo.
O começo da análise é óbvio:
A empresa saiu de um lucro de R$ 409 milhões no acumulado até 09/2023 para um prejuízo de R$ 214,5 milhões até 09/2024.
Olhando de bate pronto, temos o principal fator a queda brutal de Receita, mas não é só isso.
Vejam que a Receita Líquida caiu 72,6%, e apesar de ter ocorrido redução no Custo dos Serviços Prestados, a redução foi de apenas 55,8% no total.
As reduções em Serviços Contratados e Utilities até estão coerentes, mas Pessoal caiu pouco – apenas 30% para uma queda de ROL de quase 73%.
Ou seja, só aí a Margem Bruta já cai de 67% para 47%.
O que era uma queda de R$ 820 mil na receita foi apenas parcialmente recuperado (R$ 207 mil), resultando em uma redução de R$ 613 mil no lucro bruto.
Mas tem explicação para a queda da Receita? Sim.
Está na Nota Explicativa.
A queda foi em função de transferências de concessões (Edital 01/2022). Mas o interessante é que a empresa divulga o resultado das operações descontinuadas, na Nota Explicativa 32.
Abaixo prints das duas notas.
“ENTÃO ESTÁ EXPLICADO O PREJUÍZO!!!”
Não é bem assim.
Como tem a abertura (bem sintética) do resultado de operações descontinuadas, eu ajustei o DRE.
O que foi o ajuste?
A reversão de receitas, custos e despesas conforme a Nota 32. No caso, o que era Receita é negativo e o que era Custo (ou despesa) é positivo (reduzindo o gasto).
O problema: a informação na Nota Explicativa é sintética, não tem a abertura de contas.
Eu até tentei fazer algumas inferências por proporção e associando a redução de gastos com pessoal e encargos (tendem a ser proporcionais), mas a chance de ter erro de estimativa aumenta.
O resultado continua ruim.
O principal é que, depois do ajuste, o custo na realidade aumenta: de R$ 108 milhões para R$ 162,5 milhões, mesmo com redução de ~19% da receita.
A redução de receita de R$ 71,5 milhões se torna uma queda no lucro bruto de R$ 125,7 milhões.
A margem bruta cai de 71,6% para 47,5%.
Pelos volumes, minha impressão é que o principal ajuste de custo das Op. Descontinuadas sai de Serviços Contratados e Utilities.
Uma análise que é possível fazer é da proporção de despesas antes de ajustes.
Como já é usual, mais uma vez os custos com pessoal se destacam, passando de 33,1% do total de custos para 49,2%.
Importante: eu não fiz distribuição do ajuste de Op. Descontinuadas. Eu só fiz a proporção de custos incorridos até 09/2023 e até 09/2024.
É difícil fazer inferência precisa com estimativas assim, mas destaco 2 pontos:
1) Me parece um aumento de proporção excessivo – ou seja, possivelmente deveriam ter reduzido mais, considerando a queda nas receitas.
2) Pode ser característica dos ativos que ficaram (não foram objeto da concessão).
As despesas, considerando o ajuste, aumentaram em 3,4% de um período a outro, o que não chega a assustar considerando o agregado. Mais uma vez, seria útil saber onde foram os ajustes de Op. Descontinuadas de forma analítica.
No caso da Infraero, EBIT e EBITDA são praticamente iguais, pois o Ativo Imobilizado é baixo.
Isso acontece porque os ativos são da União, a Infraero é apenas a administradora.
Isso gera algo interessante: os investimentos vão para o resultado e FCO, não para o FCI e ativo:
Por falar em fluxo de caixa, a Infraero consumiu R$ 142 milhões de caixa operacional até 09/2024 e mais R$ 125,7 milhões em investimentos (bens da União).
Redução de R$ 267,8 milhões de caixa.
Ainda assim, o caixa é bem alto (R$ 2,5 bi até 09/2024).
A fonte dos recursos é majoritariamente Receitas Antecipadas (vejam 2023, abaixo).
Segundo a Nota Explicativa, isso é resultado da 7a rodada de concessões.
Como eu peguei os DFs de anos diferentes (para a N.E.), pode ter tido alguma reapresentação de valores.
O resumo é mais uma estatal apresentando prejuízo até 09/2024.
Não chega a ser uma surpresa, mas neste caso a análise não fica tão precisa pelos ajustes de um ano a outro.
O ideal seria ter as reversões de Operações Descontinuadas no detalhe para alocar e ver a evolução de um período a outro.