Análise – Telebrás (até 30/09/2024)
Depois de olhar os resultados dos Correios, pensei em ver as outras estatais. Uma que chama a atenção é a Telebrás.
Abaixo os DFs até 09/2024 e em seguida a análise.
A notícia não é animadora.
A Telebras está dando prejuízo bruto: seu custo de produção é acima da receita – não precisa saber analisar muito balanço para saber que isso é péssimo.
A empresa não gera lucro bruto nem para pagar suas despesas administrativas e comerciais, que têm um caráter mais fixo.
Porém, quando abrimos o custo, tem um ponto importante: grande parte do custo (cerca de 40%) vem de depreciações, que não têm efeito no caixa (as depreciações representam a desvalorização do ativo imobilizado).
Mas isso não é tão bom quanto pode parecer.
O ajuste faz com que a empresa divulgue nos comentários um EBITDA positivo.
Meu ajuste ficou um pouco diferente do que a gestão divulga, porque eu simplifiquei e só retornei a depreciação. A diferença é imaterial até set/2024.
Abaixo o meu cálculo:
Então isso significa está tudo bem?
Não, nem de longe.
Como a depreciação é a desvalorização dos ativos, precisamos ver qual a necessidade de reinvestimento em Imobilizado (equipamentos, máquinas, construções etc).
Isso pode ser visto em dois lugares.
a) no Balanço
b) no DFC
Deixei o DFC com as contas sintéticas para mostrar só os números principais.
Eu acho o DFC mais útil e mais fácil de analisar nesse ponto, porque ele mostra diretamente o consumo ou geração de caixa – o que foi pago ou recebido.
O que o DFC e o BP dizem, neste caso?
Apesar do prejuízo operacional, a Telebrás está gerando caixa operacional.
A reversão da depreciação leva a um EBITDA positivo, e como a empresa não está reinvestindo, não está consumindo tudo.
Mas sigam no artigo, que não é bem assim.
Abaixo uma análise rápida do DFC.
O mais interessante é o FCO: apesar do prejuízo, a geração de caixa vem principalmente do lucro ajustado pelas rubricas sem efeito caixa. Depois disso, tem também um efeito de uma melhor gestão de caixa – especialmente maior financiamento por parte de Fornecedores e redução em Contas a Receber.
Do FCI já falamos – o reinvestimento é baixo, portanto o caixa gerado pela operação é suficiente para cobrir a aquisição de imobilizado (aí que tá o primeiro problema).
No FCF, o principal efeito é a amortização de dívidas.
O Fluxo de Caixa Livre fica em R$ 133 milhões no período.
“Bom, então se a empresa está gerando EBITDA positivo e caixa operaciona a notícia é boa, né? NÉ??”
Não.
O setor da Telebrás é intensivo em capital, portanto seria desejável, no mínimo, uma taxa de reinvestimento que cubra a depreciação (a desvalorização dos ativos).
Idealmente, o reinvestimento seria superior à depreciação, para garantir expansão e modernização da infraestrutura.
Segundo problema:
Eu fiz um ajuste abaixo para ver as margens sem o efeito da depreciação, e é MUITO preocupante.
A margem bruta, que já era ruim, despencou para míseros 2%.
Os gastos com Pessoal em Despesas Comerciais subiram ~18%, mesmo com queda de 7,9% nas receitas.
A margem EBITDA parece boa (19% até 09/2024), mas de onde vem?
De subvenções orçamentárias.
Vejam a nota explicativa – as subvenções, na maior parte, vão para pagar o que? Pessoal.
E aí, tem a outra questão: Sabe aquele caixa operacional gerado (R$ 184 mi)?
Então, 70,5% dele vem de subvenções – que são contabilizadas como receita conforme o CPC 07.
Descontando o efeito das subvenções, o resultado é (mais) assustador.
Vejam que o EBITDA é revertido e a margem despenca de vez para péssimos -27%.
Ou seja: mais uma estatal com resultado péssimo.
Margens ruins, custos crescentes e sobrevivendo às custas de subvenções e assistência do governo.