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Telebrás – Anual 2024

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SAIU O ANUAL DA TELEBRÁS!

O prejuízo líquido saiu de R$ 127 milhões em 2023 para R$ 66,5 milhões em 2024.

Olhando de bate pronto, parece o início de uma recuperação, né?

Mas não é bem assim. Vamos ver por quê.

A imagem abaixo é o DRE original.

Vejam que a Margem Bruta reportada é negativa – a empresa não cobra nem o suficiente para cobrir os custos de produção.

Além disso, as “Outras Receitas Operacionais” representam praticamente 90% da Receita Líquida em 2024 – ou seja, ficam perto de dobrar as receitas.

“MAS O QUE ISSO QUER DIZER?”

Quer dizer que precisamos reorganizar um pouco o DRE para ter uma análise adequada.

Isso se chama “reformulação“, e consiste em separar o que faz parte da operação em si, o que não faz, e reclassificar algumas receitas e despesas para entender melhor o que aconteceu.

Vejam o DRE Reformulado – que usarei para a análise.

O que reorganizei:

Depreciação – tirei do custo e da despesa e coloquei abaixo do EBITDA, pois não têm efeito caixa.

Subvenções governamentais– apesar de ser reconhecida em “Outras Receitas Operacionais”, elas não fazem parte da operação.

Superávit de Previdência Privada – é um valor não-recorrente e não tem relação com a operação principal da Telebrás. Deixar no resultado operacional distorce as margens.

Agora já dá para começar a ter uma ideia.

Primeiro: a Margem Bruta é revertida – a empresa vende sim com margem.

“QUE BOM NÉ?”

Hm, é, mas a margem é bem baixa – 10% de margem bruta em 2024, e 2023 foi 12%.

Além de baixa, está caindo.

Isso significa que a empresa está perdendo eficiência produtiva – os custos cresceram mais que a receita, especialmente em “Serviços de Terceiros”.

“MAS COMO ASSIM REVERTEU?”

Reverteu porque o peso maior de custos era em Depreciações.

As depreciações não têm efeito caixa (ao menos imediato).

Elas representam o desgaste e desvalorização de Ativos Imobilizados (máquinas, equipamentos etc).

O problema aqui é o seguinte:

A empresa não está nem de longe reinvestindo para repor a Depreciação.

Depois disso temos as Despesas.

Como eu disse, eu tirei as principais Não-Operacionais e Não-Recorrentes.

Com isso, a Margem Operacional da Telebrás desabou:

Margem Operacional -85% (isso mesmo, negativa) -> R$ 351,9 milhões de prejuízo operacional.

Vejam que aqui a depreciação também entra – ela fica fora do EBITDA (logo antes).

Focando nas principais despesas:

O crescimento geral das despesas foi de 7,7%, portanto acima da inflação.

A principal ofensora, Despesas com Pessoal, cresceu 4,9%, o que não é nenhum absurdo.

A conta “Serviços de Terceiros” aumentou muito (26,6%), porém é menos representativa.

“AHÁ! ENTÃO NÃO TEM PROBLEMA EM DESPESAS COM PESSOAL!”

Também não é bem assim.

Vejam a proporção das Despesas com Pessoal da Telebrás.

Em 2024, Despesas com Pessoal representaram 79% das despesas administrativas e comerciais. Dos R$ 110 milhões totais, Pessoal foi R$ 87,5 milhões.

Em 2023 não foi muito diferente, o que sugere um problema estrutural.

Com isso, chegamos em um EBITDA negativo na Telebrás em 2024 de R$ 81,9 milhões (20%), com uma pequena melhora em relação a 2023 (R$ 6 milhões).

Considerando depreciações, o resultado operacional é negativo em nada menos que R$ 352 milhões.

Como a empresa sobrevive?

2 coisas:

1) Depreciações não tem efeito no caixa. A falta de reinvestimento vai gerar um problema mais adiante, mas é um prejuízo contábil.

2) Subvenções.

Em 2024, a Telebrás recebeu R$ 158,4 milhões de subvenções (em 2023 foram R$ 249 milhões).

Para onde foi esse dinheiro?

Pouco mais da metade para pagamento de Pessoal.

Ou seja: praticamente todo o gasto com pessoal alocado nas despesas (R$ 87,5 milhões).

As subvenções sao responsáveis por boa parte da reversão (parcial) do prejuízo operacional.

A outra parte (R$ 212 milhões) vem de superávit de Previdência Privada.

Isso não tem efeito imediato no caixa – será recebido em 36 parcelas.

“E POR QUE VOCÊ TIROU ISSO DO OPERACIONAL? SÓ PARA PIORAR O RESULTADO, NÉ?”

Eu tirei isso do operacional por 2 motivos:

1) Além de não-recorrente, esse valor não faz parte da operação em si da empresa. A Telebrás não tem como core business gestão de plano de previdência.

2) Devido ao motivo 1, deixar isso no operacional distorce as margens e prejudica a análise.

“E O CAIXA? CADÊ O DINHEIRO?”

No caixa acontece basicamente a mesma coisa.

Olhando de cara, parece que está tudo bem – geração de caixa operacional, amortização de dívidas etc.

Mas de novo, é necessário reformular – tem que tratar as subvenções, que estão distorcendo o fluxo operacional.

SUBVENÇÃO NÃO É PARTE DA OPERAÇÃO.

Vejam como a Demonstração de Fluxo de Caixa da Telebrás muda com o tratamento das Subvenções.

O que era uma geração de caixa operacional de R$ 121,6 milhões passa a ser um consumo operacional de caixa de R$ 36,8 milhões.

Com o prejuízo, isso é esperado.

A questão é:

Todos os fluxos são negativos.

A Telebrás consome caixa operacional.

Consome caixa no fluxo de investimentos (e investe pouco, para o setor).

Consome caixa no fluxo de financiamentos.

Ainda assim, tem aumento de caixa.

Qual a mágica?

O governo cobre.

O fluxo de caixa livre da Telebrás é negativo em R$ 113,7 milhões, e o governo repassou em subvenções R$ 158,4 milhões.

Isso leva a um aumento de caixa de R$ 44,6 milhões em 2024.

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