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Resultado dos Correios: foi a taxa das blusinhas? (até 09/2024)

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No início de fevereiro, eu postei no Twitter/X uma análise sobre os Correios.

A motivação disso foi uma das justificativas sobre o resultado ruim: a “taxa das blusinhas”.
Como não achei que fez sentido, fui ver o resultado dos Correios para ver o que estava acontecendo.

Abaixo o DRE sintético conforme o publicado (acumulado 09/2024) e nos próximos tuítes com as contas abertas. Quando sair o anual com um período maior de impacto da “taxa”, atualizo a análise.

O que não fez sentido para mim é a movimentação. A justificativa foi que o prejuízo de 2,1 bi vieram da taxa das blusinhas, mas vejam como isso não faz sentido.
Como uma queda de R$ 116 milhões em vendas aumentaria o prejuízo em R$ 1,3 bi?

A primeira explicação está na perda de eficiência.

O custo caiu menos que a receita, resultando em perda de margem bruta de 22% para 16%. Só aí, temos que a queda de R$ 116MM na receita virou uma queda de R$ 877MM no lucro bruto.

O maior ofensor? Gastos com Pessoal.

Nas despesas operacionais, novo aumento, sendo que novamente o que cresceu mais foram os gastos com Pessoal (R$ 200,6MM, correspondendo a 9,7%).

Outras contas tiveram queda, mas isso resulta em um aumento líquido nas despesas de R$ 101,7MM.

Segundo a Administração, o aumento do custo de pessoal teve como principais responsáveis:

Em “Outras Receitas Operacionais” houve uma queda que impactou em R$ 150MM nas reversões de PDD. Ou seja, de um ano para outro a empresa passou a receber menos PDD.
Aqui a nota é menos clara.

Com isso, chegamos a uma queda no resultado operacional R$ 1,14 bilhões.

A margem saiu de -6% para 14% (ou seja, já era negativa e piorou).

Com o resultado financeiro, também pior devido a menor receita de aplicações, o prejuízo do ano foi de R$ 2,139 bi.

O que isso tem a ver com taxa das blusinhas? Me parece que nada. É muito mais sintoma de gestão ineficiente, mesmo.

Por fim, só para não passar batido, no próximo tuíte tem o DFC. A geração de caixa também foi negativa e não, não tem a ver só com “investimentos”.

A geração de caixa operacional foi negativa em ~R$ 1,4 bilhões, especialmente devido à variação na conta de fornecedores.

A variação líquida de caixa foi de R$ 269,6 milhões negativa. O fluxo de investimentos (sem resgate de aplicações) foi de R$ 500 milhões investidos.

Ou seja, a empresa se financiou com resgate de aplicações. O tal “dinheiro que já tinha em caixa”.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem
Isso não significa, nem de longe, que não teve prejuízo, ou que teve geração de caixa – o que a ministra disse na coletiva não retrata a realidade.

Por fim, recebi comentários que o impacto da “taxa das blusinhas” pode ter sido maior no 4o trimestre. É verdade, mas então de duas uma:

1) Se o impacto foi de R$ 2 bi, podemos esperar um prejuízo ainda maior, a não ser no caso improvável de um ajuste brutal da empresa em 3 meses.

2) Se o prejuízo se mantiver em R$ 2 bi, significa que o 4o tri foi de break even, e aí o grande responsável não é o imposto das blusinhas.

Além disso, os Correios têm uma enrascada de fluxo de caixa para resolver.

O problema?
Vejam a variação dos saldos de Caixa e Aplicações no Balanço (saldo 09/2024 vs 12/2023).

Pré-visualização da imagem

A empresa consumiu muita reserva. Dependendo do vencimento das obrigações do passivo circulante (que por natureza já é de até 1 ano), tem um problema de liquidez.

O índice de liquidez mais básico é o Índice de Liquidez Corrente (ou “Current Ratio”), que é a divisão do ativo circulante pelo passivo circulante.

Circulante significa “curto prazo” (vence até 12 meses).
Em geral, é desejável acima de 1. Os correios tem 0,52.

O ILC indica quanto a empresa tem de ativos (bens e direitos) de curto prazo para fazer frente às suas obrigações de curto prazo, por isso é desejável que seja acima de 1 (indica solvência).

No caso, os Correios só tem 50% do seu passivo circulante em ativos.
Preocupante.

Um disclaimer: este post não entra no mérito do imposto das blusinhas em si. A questão é analisar a narrativa em relação aos dados financeiros, e criticar o que deve ser criticado.

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